terça-feira, 27 de janeiro de 2009
One Hour By The Concrete Lake - Pain of Salvation
Vou ser sincero: não gosto de Pain of Salvation. Entretanto, me recomendaram este álbum para uma análise, e acabei percebendo que seu conceito era bom demais para que eu o deixasse de fora apenas por meu gosto pessoal.
A História:
One Hour by the Concrete Lake conta a história de um homem que trabalha em uma fábrica de armas desenvolvendo-as, até o momento em que ele questiona seu emprego e sua vida. Ele parte pelo mundo para ver o resultado de seu trabalho e se depara com toda a morte e sofrimento que as armas que ele criara causavam. Depara-se também com o impacto na natureza por culpa da profissão que escolhera.
Spirit of the Land
(Espírito da Terra)
Instrumental
Inside
(Por Dentro)
O protagonista da história se vê diante do dilema. Afinal, ele que fabricara armas durante sua vida não era também culpado pela morte dos milhares que caem nas guerras?
Ele disserta sobre todas as mentiras e frases de alívio faladas quando ele se questionava.
Me disseram que a dor e a fome não eram culpa minha
Como poderiam estar tão enganados?
E cara, de 5 bilhões de pessoas você é apenas um
Acreditei neles por muito tempo!
Mãos limpas
Minha terra é meu lar
O personagem sabe que, no fundo, ele é apenas peça de uma grande engrenagem, mas se dá o próprio valor. Sabe que ele é um indivíduo único
Eu estou dentro do grande sistema e ele me devora!
E eu sou apenas uma roda em movimento,
cego demais para ver
O caminho que estamos seguindo agora
Eu sou vazio
Eu engulo, mas...
Por dentro sou forte
Por dentro sou livre
Por dentro sou jovem
Por dentro ainda sou eu
Um pequeno trecho narrado fala do número de mortes em guerras recentes
[Desde 1990 houve 93 guerras em 70 estados espalhados pelo mundo, com 5,5 milhões de mortos. 75% dessas pessoas eram civís, 1 milhão, crianças...]
O protagonista no entanto continua se sentindo culpado
Não consigo dormir -- eu me viro de um lado para o outro
Bem nofundo -- eu suo, eu queimo
Tenho medo de acordar vestindo um grande erro
Eu morreria!
The Big Machine
(A Grande Máquina)
O personagem fala sobre o sistema e sua rotina na "grande máquina" que ele é
Bem-vindo ao interior do sistema
Isso dói!
Fique anestesiado, fique cego...
Alguém ajusta um cano
Alguém ajusta o alvo
Alguém faz o papel de gatilho
Armas como um jogo!
Todos presos à rotina de matar
Deixados limpos...
... por esse sistema
Em um trecho, ele deixa explícito que eles são lembrados por suas glórias como criadores de armas, mas não pelo resultado delas.
Nessas paredes cinza
Belas fotos das armas que produzimos
Mas não de suas ações...
New Year Eve
(Véspera de Ano Novo)
O personagem disserta sobre a hipocrisia que atinge as pessoas nas vésperas de ano novo, onde tentam deixar seus pecados para trás e sonham com felicidade no ano vindouro.
Então mais uma vez
Outro Ano Novo vai curar nossa dor
Fé pelos poucos
E ritos que nos farão corajosos
Tão novo
Rimos e brindamos a um Feliz Ano Novo
Feliz?
Velas se apagam
E na escuridão o futuro chega
Rimos - todos conscientes
Mas sem nunca falarmos das máscaras que usamos
Cegos!
Virar espelhos de ponta-cabeça
Não fará com que a poeira caia do chão
Esconder as feridas não fará com que a dor seja menor
Dormir não fará com que você fique inteiro novamente
O personagem então decide mudar sua vida, sair do sistema.
Eu vou procurar meu lar fora desse território
Eu correrei para alcançar o passado
Uma resolução para a Vida Nova
Dessa vez sei que vai durar
E eu vou...
Mudar o intereior
Beber a chuva
Expor minhas feridas para curar a dor
Handful of Nothing
(Um Punhado de Nada)
O personagem decide viajar pelo mundo e ver o que realmente faziam suas armas. Ele se depara com um verdadeiro cenário de guerra. Ele deixa claro o quão chocante tudo isso é na vida real, ao contrário de antes quando ele via tudo pela televisão.
Já vimos isso antes, mas seguros por nossas telas suburbanas
Agora estou aqui em carne e osso
Uma testemunha da guerra nesse cenário esquecido por Deus
Longe daquelas paredes cinza
Vejo crianças com armas, ódio e medo nos olhos
Elas atiram para aliviar a dor
Um conflito para solucionar, ainda que alguém morra
Protejendo nossos interesses...
Olhe ao seu redor, logo não haverá nada
além de ruínas a serem encontradas
O vencedor será o último que restar de pé
Movimentos letais em um jogo de xadrez para os depravados
Rei ou Peão? Vale a pena salvá-lo?
(E quem são aqueles que terão de pagar?)
O personagem lamenta que tenha sido manipulado durante tanto tempo pelo sistema
Me disseram que poderíamos realmente salvar vidas humanas
Que exércitos guardariam a paz
E que meu trabalho salvaria, solucionaria e construiria laços
Apenas mentiras!
E eu alimentei suas carteiras...
Water
(Água)
Viajando pelo deserto, o personagem conhece um senhor que precisa cavar 3 metros todos os dias para ter algo de água, e ainda dividira metade disso com ele. Ele disserta sobre como o ser humano desperdiça sua água enquanto outros mal tem o que beber.
Eu sempre adorei o som da chuva
Batendo leve em minha janela
E depois o cheiro do orvalho de madrugada
Vindo me receber da grama úmida
... o lar...
Eu nunca valorizei isso
Eu nunca dei valor às gotas que derramei
Eu não consegui ver a relação
Entre mim e a fome mundial
A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?
[Nessa ampulheta quente, desolada,
eu conheci um homem, usando um boné velho.
Todos os dias ele tinha de cavar 3 metros
para chegar à sua porção diária de água-
um mero galão.
E era o que fazia - cantando enquanto trabalhava!]
3 metros de areia para a sede
Mas ele me deu metade do que teria para o dia todo
Tudo para a sede e a higiene
Enquanto usamos mais de cem vezes mais:
O que fazemos com isso?
Canos e banheiras, irrigação e fontes!
Água limpa usada como esgoto para óleo e lixo nuclear!
"O povo do deserto se tornou humilde", disse ele
Eles sabem o que têm
Mas sabem o que perdem quando puxamos a descarga?
Home
(Lar)
Em sua viagem pelo mundo, o personagem vê nativos lutando para recuperar suas terras do homem branco que retiraram o urânio de suas terras para depois depositar o lixo nuclear nas terras, após aproveitar a energia. Os nativos do lugar se recusam á sair, mesmo com o risco de contaminação
Esse é nosso lar - nossar raízes vão fundo
Onde nossos ancestrais dormem
Essa é a terra que nutrimos por inúmeras estações
Mas nunca foi de nossa posse
Minha tribo chora - nossa terra morre
Mas não podemos partir - esse é nosso lar
Não podemos esquecer o passado...
Black Hills
(Colinas Negras)
O personagem chega às margens do Lago Karachay (que fica em Kyshtym na antiga União Soviética), onde foi depositado tanto lixo nuclear nos últimos cinqüenta anos que se alguém ficasse por ali mais de uma hora, a exposição à radiação causaria a morte em duas semanas. Todo o lago Karachay foi eventualmente coberto de concreto, mas para os níveis de radiação voltarem a serem aceitáveis, seriam necessário milhares de anos. Contudo, após dez anos, o concreto começou a rachar e a radição voltou a vazar. Como se não bastasse, o lago é conectado subterraneamente a muitos outros rios e ao mar.
Esse era nosso lar - nós tínhamos nossa verdade
Sangramos por nossas crenças - por que ainda devemos sangrar?
Seus rastros estão presos para sempre nessa terra...
Então você vem pelo nosso solo sagrado
Quando sua natureza se foi e sua casa queimou
Não!
Por séculos você feriu essa terra
Comendo o que havia lá, deixando um terreno destruído
Mas não há lugar suficiente para todos os seus erros
Pilgrim
(Peregrino)
O personagem percebe que durante sua jornada, ele fica cada vez mais sábio e conhece ainda mais a alma do ser humano, mas não sabe até que ponto isso é bom para ele.
Quanto mais alto chego - mais perto do sol,
Quanto mais aprendo menos certezas tenho
Para cada sistema que abandono, encontro outro maior
A cada passo, mais sábio me torno
Mas isso me consome...
Peregrino, aonde vai?
Peregrino, seu caminho fica inóspito
Peregrino, verdade para si
Mas quanto pagará pelo Graal que procura?
Shore of Serenity
(Praia da Serenidade)
O personagem dá-se conta de que em qualquer lugar, ele faz parte de algum sistema. Mas percebe também que ele é uma peça do sistema em que está, independente de qual, e que ele pode fazer a diferença.
Ser ou não ser uma roda no grande sistema
Não é essa a questão do jogo
Enquanto você puder perceber a moldura do retrato
(As rodas fazem o Sistema)
Isso é tudo o que me resta
Um homem acabado em um mar acabado
Mas agora sei que uma célula pode matar
e que um grande sistema se sustenta e cai com... uma roda...
Inside Out
(Avesso)
O personagem então percebe que todos aqueles problemas com o qual se deparou não tinham solução, pelo menos não uma que dependesse dele. Ele relata que para que qualquer pessoa percebesse a gravidade do problema, que passasse uma hora ao lado do lago de concreto.
... do lado de dentro!
Eu juro que há alguém por dentro
Lutando para sair
Dê a isso tudo apenas uma hora
Ao lado do Lago de Concreto!
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Para ser franco, não foi esse álbum que me fez gostar da banda, mas ele confirmou algo que eu já sabia: o Pain of Salvation sabe ser genial quanto a suas letras.
Mesmo quem não gosta, recomendo a apreciação das letras desse álbum, sua história é relevante, atual e sensacional.
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